Skream, Hatcha & Crazy D em Portugal

É já no próximo dia 19 de Abril que o Lux acolhe pela primeira vez em Portugal dois dos maiores nomes do Dubstep: Skream e Hatcha acompanhado de Crazy D.

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"2006, o primeiro ano do mediatismo e do “boom” do dubstep de Londres (e arredores) com emissão mais vasta para o estrangeiro, trouxe uma mão cheia de visionários da batida contemporânea para a linha da frente a representar o que era vendido como um novo género de beat a sair da capital inglesa. Com os discos de Burial e de Kode9 com Spaceape a aterrar nas lojas e a invadir a imprensa, chegava--se com “buzz” fortíssimo a uma série de nomes que faziam 12"s há já alguns anos, e que permanecem até este momento como a nata da produção do que se veio a designar por dubstep. Entre eles Loefah, os Digital Mystikz de Mala e Coki (responsáveis pela DMZ - editora e noite que acontece em todos os meses ímpares em Brixton), Benga e Skream. Este último, Ollie Jones de seu nome, com 20 anos, produziu já - literalmente - mais de mil temas, espalhados por dubplates, 12"s e pelo seu LP de estreia homónimo pela Tempa, dos primeiros objectos mais acessíveis do dubstep e já um dos seus mais emblemáticos. É também autor de «Midnight Request Line», um dos clássicos instantâneos do género, e só por isso já ía para o céu. Falámos ao telefone com ele sobre a Big Apple Records, a evolução do dubstep, grime, dancehall e o que vem aí, para o futuro, e para a noite em que se estreia em Portugal, no Lux, dia 19 de Abril.
Na mesma noite vem com ele Hatcha, para muitos o grande DJ de dubstep, criador das noites «FWD» no Plastic People em Londres, festas normalmente apontadas como o local do nascimento do género, onde todos os nomes mais revolucionários desta vaga encontraram um poiso e uma casa. A acompanhar os dois, o MC Crazy D, dos mestres de cerimónias mais rodados do dubstep, a par de Sgt. Pokes. Nomes seminais do que é trabalhar um beat hoje em dia, para uma noite que se quer com os graves a derreter a cabeça, a fazer vibrar o corpo e a libertar o positivo.

• Como foi para ti crescer no Sul de Londres?
Foi bastante fácil, para te ser honesto. Foi porreiro, acho que normal, parecido
para como terá sido para a maioria das pessoas. Parava na rua com os meus amigos sem fazer nada de mal, só a ficar por aí. Na zona onde eu vivo as coisas são sossegadas e conhecia toda a gente.

• Como era o vibe no Sul de Londres a nível musical, nomeadamente em relação à Big Apple Records?
A música principal era UK Garage. Comecei a conhecer as coisas mais underground depois de conhecer o Hatcha, depois conheci o Benga, e fui sempre fazendo sets desde miúdo. O vibe na Big Apple era incrível, tipo família. Não consegues mesmo explicar o que era a não ser que fizesses parte daquilo, porque estavas rodeado por pessoas a fazer o que queres fazer quando fores mais velho - ou pelo menos era isso que eu pensava na altura, era isso que queria fazer, estar a fazer música e ser um DJ. Era calmo, havia sempre bom ambiente lá. Sempre tudo a rir-se, tudo descontraído.

• Que noites, sets, 12"s ou dubplates foram mesmo importantes para ti quando começaste a fazer música?
A crescer fui sempre um gajo do vinil, comprei sempre muito vinil e recebia muitas promos da Big Apple porque passava sempre lá a vida.

• Quando é que começaste a trabalhar na Big Apple?
Devia ter tipo 14.

• Como é que te orientaste aí?
O meu irmão costumava tomar conta do piso do jungle. Ele e um tipo chamado
Iceman tratavam desse andar, e quando cheguei a uma idade em que quis
começar a ser DJ e fui aceite muito facilmente, porque era o irmão puto do Hijak.

• Cresceste com o teu irmão, não foi?
Não cresci com ele. Tornámo-nos muito mais próximos nos últimos anos.

• E houve alguns discos em particular que foram importantes para ti para começares a fazer coisas?
Todas as faixas que queria na altura não conseguia arranjar, porque eram coisas
que só existiam em dubplates. Tipo El-B & Juiceman, uma faixa chamada
«Buck and Bury» que está na compilação «The Roots of Dubstep», que eu adoro. Costumava passar-me da cabeça com isso. Lembro-me de estar no Fabric aí com uns 15 anos, lembro-me de estar no primeiro ou no segundo «FWD» quando a tocaram... adoro essa faixa, ainda hoje.

• Sendo que o «dubstep» é um nome tão utilizado pela imprensa e, subsequentemente, pelo público que compra discos e por pessoas que vão a festas, tu lidas com os teus beats a partir de um prisma de género ou apenas enquanto beats? Fragmentas o que fazes?
Quando faço música, para te ser honesto, fico o dia inteiro à frente do computador e depois vejo o resultado final. Às vezes posso prestar mais atenção à percussão, e outras vezes gosto de manter a coisa estritamente minimal, e passar x tempo à volta da linha de baixo, só a trabalhá-la. Não há nenhum horário. Como estou no estúdio o dia inteiro, se tivesse um horário certo passava-me da cabeça. A única altura em que não consigo fazer música é quando tenho merdas a mais na minha cabeça. Fora isso consigo sempre estar a produzir.

• Por exemplo o que é que sentes acerca da ligação, ou falta da mesma, de pessoas dentro da tua comunidade ou grupo de amigos (ou como lhe quiseres chamar) em relação a pessoas que fazem grime? A onda, o aspecto social, o network social?
A nível de clubes já não há noites de grime em Londres. O grime é controlado por MCs e nenhum MC está a falar positivo, portanto o resultado é teres um clube cheio de jovens temperamentais que não estão lá para ouvir música, estão lá para ouvir um MC. Numa noite dubstep não há nenhum MC com esse tipo de atitude, tens só pessoas para ouvir a música. No grime é só imagem, com toda a gente com
os ténis, fato de treino e boné a condizer, e nas noites dubstep tens pessoas vestidas de uma forma mais descontraída. Agora, tenho relações com pessoas no grime, tipo o Plastician. Ontem estive a trabalhar numa remistura com ele e ele vai voltar cá em breve. Tenho amigos na cena do grime, mas do grime como um todo não sou grande fã, até porque não gosto muito de música centrada em voz, numa onda em que te é dito que faixas é que são boas. Se um MC se passa numa música toda a gente se passa.
No dubstep não precisas de ouvir (de alguém) quais são as canções boas. Prefiro muito mais esse vibe, porque de certa forma é mais real.

• Ao mesmo tempo também andas a fazer faixas com voz, tipo as faixas com o JME e com a Warrior Queen.
Sim, mas se ouvires a faixa que eu fiz com o JME não é ele a falar acerca de como vai matar toda a gente. É uma faixa sobre como hoje em dia no século XXI vives num clima tipo Big Brother, sobre como todas as pessoas estão a ser observadas. Só escolhi o JME de todo o pessoal do grime porque ele é um tipo inteligente e veio fazer o que sabe fazer. Não é um gajo com mania nem arrogante. Prefiro ouvir grime num CD do que num clube. Não sou anti-MC. O Wiley é um MC excelente, mas muitos deles têm um público muito complicado.
O público não vai lá tanto para ouvir a música, vai mais para ver se consegue arranjar confusão com o MC. Estava a falar com o Plastician ontem e ele estava a dizer que não toca em noites de grime. Se fores ver, ele só toca em noites dubstep, porque se reparares ele não tem um MC que está sempre com ele, mesmo que o Skepta esteja muitas vezes com ele. Ele é um dos únicos DJs de grime que pode ir a uma festa e destruir, sem um MC.

• Como é que surgiu a tua colaboração com a Warrior Queen?
Foi fora, porque estava a trabalhar numa faixa e tinha-a em mente até porque já tinha feito uma remistura de um tema em que ela participava, chamado «Almighty Father»
e, basicamente, acabei essa faixa e queria entrar em contacto com ela, e no mesmo dia que a terminei fui ver os meus emails e estava lá uma mensagem da Mary Anne Hobbs a dizer que os agentes da Warrior Queen queriam entrar em contacto comigo.

• Tens algum passado com o dancehall?
Não, de todo. As coisas mais dubby, com uma onda mais dancehall aparecem muito por culpa dos Digital Mystikz. Sempre fui mais uma pessoa influenciada por música electrónica, mais por house e coisas assim, e foram eles, o Horsepower e o El-B que me passaram isso. Mas foram principalmente os Digital Mystikz que trouxeram toda a cena do soundsystem, do bashment, a cultura do dub para o dubstep. O dubstep teve esse nome originalmente porque era 2step instrumental, se voltares a 2003. Quando o nome surgiu, nem penso que queriam dizer que era algo muito influenciado por reggae.

• Quem arranjou o termo?
Foi o Blackdown (blackdownsoundboy.
blogspot.com). Eu e o Benga fomos a primeira geração de produtores que estavam a fazer coisas que foram apelidadas de dubstep. Havia outras pessoas mais velhas, mas eram mais garage do que o que nós fazíamos na altura. Nós despimos muito a música e ficou mesmo minimal. Começámos a fazer o que queríamos. Queríamos fazer música como o El-B ou o Horsepower, mas éramos principiantes e não tínhamos as mesmas cenas de estúdio. Só tínhamos PCs.
Que tipo de necessidade ou visão tinhas para batidas mais cruas e secas no garage e no 2step? Ou foi um processo instintivo?
Penso que foi algo que aconteceu de uma forma simples. Concentrávamo-nos muito nas linhas de baixo e depois de as fazermos não estávamos muito preocupados com muito mais para além disso. Era fora. Começávamos a desenhá-las e passámos tanto tempo nelas, que ligávamos ao resto, mas era mesmo aí que nos concentrávamos. Tínhamos sempre batidas minimais e um fundo misterioso, escuro e quando ficávamos com isso as faixas ficavam feitas.

• Estavas a falar de techno, mas relativamente a coisas fora de Londres o que é que te influenciou?
O único techno que costumava ouvir era na Big Apple. Não te consigo dizer nomes nenhuns. O Artwork costumava fazer umas coisas de techno sob o nome Grain que eram mesmo boas. Nunca consegui apanhar nada dele porque eram prensagens muito limitadas, mas eram batidas muito pesadas. Para te ser honesto os meus ouvidos abriram-se muito mais depois de ter começado a fazer música.

• Qual pensas que foi, especialmente fora do Reino Unido, a importância dos discos de Burial e Kode9 & Spaceape? Achas que foi uma boa maneira de trazer a música cá para fora?
Nunca tinha conhecido o Burial, nunca tinha ouvido a música dele antes do álbum sair. Isso foi bom para o disco. Era algo que ninguém conhecia, que de repente saiu e era bom. Não estou certo se isso me ajudou realmente, porque o meu trabalho é muito oposto ao dele dentro do dubstep. O dele é muito mais abstracto, não sei... a maioria das pessoas que conheço, o Benga, o Chef, nunca tínhamos ouvido falar dele. Pareceu-me um pouco estranho ele aparecer do nada e fazer um disco, mas ele provou que não era, porque o disco era mesmo bom. Foi só surpreendente que ele fosse tão pacato. Muitos de nós vemo-nos muito, mesmo o Kode9, e nunca tinha ouvido o nome Burial até ter ouvido uma música (dele). Pensei que ele fosse o El-B, mas não era, era o Burial. Já estive com ele um par de vezes e é um tipo muito pacato.

• Qual pensas que é o estado actual dos beats de dubstep? O que é que se ganhou e perdeu depois desta primeira vaga de discos mais fáceis de arranjar?
No ano passado, não os produtores principais, mas as pessoas que apareceram ficaram muito presas a uma fórmula, a linhas de baixo de LFO e ficavam-se por aí. Mas tipo Digital Mystikz, o Benga e eu vamos estar a fazer coisas bastante diferentes, então espero que isso influencie as pessoas a fazerem coisas diferentes. Havia música muito boa o ano passado, mas havia noites em que saías e só havia algumas músicas e alguns produtores a passarem porque eram as únicas coisas que soavam originais. Espero só que este ano apareça alguém fresco e novo e troque completamente as peças e apresente uma nova direcção para o dubstep. Seria mesmo interessante ver de onde é que isso pode vir. Até pode vir de alguém dentro da cena. O dubstep nunca começou formulado e, de certa forma está-lhe a acontecer o que aconteceu ao drum'n'bass, em que todas as grandes faixas são muito parecidas. Não começou assim, portanto... ainda não começou “realmente”, ainda não ficou mesmo grande, mas vamos ver como está para o ano. Acho que ainda continuará durante um tempo.

• Estás a ver alguém que tenha aparecido recentemente que tenha esse tipo de potencial?
Há uma série de produtores a aparecer. Há o Quest, do oeste de Londres. Há uma “crew” chamada Anti Social, outro tipo chamado Silk It. Há o Chrome Star. Há um outro tipo chamado Peverelished que faz cenas diferentes. Há o Clue Kid. Definitivamente o Headhunter e o povo da H.E.N.C.H, eles são mesmo bons. O Headhunter, que tem um disco a sair na Tempa é um que pode completamente virar o jogo todo com batidas mesmo, mesmo “dark”.

Pedro Gomes
Fevereiro 2007" in http://www.luxfragil.com/


--------------------------------------------------HATCHA & CRAZY D

"Criador das noites FWD, iniciadas nos Velvet Rooms e mantidas hoje no Plastic People em Londres, que se tornaram efectivamente nas primeiras noites dubstep regulares em Londres, Hatcha tem sido dos maiores dinamizadores do dubstep na capital inglesa. Reconhecido de forma quase unânime como o melhor DJ do género, misturou o primeiro volume das compilações «Dubstep Allstars» na Tempa, foi A&R na seminal Big Apple Records londrina e é residente na Rinse (a frequência londrina em FM mais vital para a batida de rua, do ragga, ao desi, ao hip hop). O aglutinador por excelência do dubstep, vai estar na pista do Lux a rebentar os novos dubplates (numa comunidade que vive tanto deles), whitelabels e 12"s que fazem Londres render-se à lei do subwoofer.
Reza a lenda que em 2001, quando o 2step controlava as noites da cidade, que o FWD foi a casa para onde todos os que procuravam novos beats, novos sons e novas atitudes foram. Todos, de Benga, a Skream, a Kode 9, aos Digital Mystikz a Loefah, a Geenius, a Youngsta passaram e passam por lá regularmente, e foi no FWD que, num público de produtores e beatheads, se foi gerando a buscar e o achamento do que se desencadeou no dubstep. Em 2007, a política mantém-se no Forward titular, com primasia dada nas sextas feiras organizados por Hatcha, em dar voz a quem mantem as ideias frescas a funcionar acima da repetição de formas e o movimento a encadear-se para sítios novos.
Crazy D é o MC residente do FWD no Plastic People, parceiro de Hatcha no programa que os dois fazem na Kiss FM, e, a par com Sgt. Pokes, dos poucos senhores do microfone cimentados no dubstep."
in http://www.luxfragil.com/
É já no p

1 Comments:

At 2:11 da manhã, Blogger João Alberto said...

Excelente entrevista!
Perguntas pertinentes mas o que é que se podia pedir mais...é Dubstep!Genial.os meus parabens!
João

 

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